26 de maio de 2011

Á frente... no Tempo!

"Sei que o tempo passou. Quanto tempo foi? Não sei! Talvez uma semana, um mês, um ano, uma vida. Mas se o tempo passou, é porque o dia deu lugar à noite e a noite ao dia; as andorinhas partiram e voltaram; os rios correram incessantemente para o mar. O tempo é um estalar de dedos, o tempo é intemporal.

Ainda ontem percorríamos descalços, o morro do Campo das Oliveiras; ficávamos ali no entardecer adivinhando o pôr-do-sol para lá do casario. Olhávamos as estrelas e tentávamos descobrir os planetas que ainda não faziam parte dos livros escolares; desbravávamos a terra acabada de lavrar numa correria louca até ao ribeiro. Não havia cansaço em nós, apenas energia e sorrisos, apenas vida. Por vezes, colavas-te a mim quando colocava um braço por cima dos teus ombros e seguíamos em passos certos como uma coluna militar. Não sei se era eu que te indicava o caminho se era o vento que nos empurrava pelas costas, mas a pressão dos teus braços na minha cintura ainda tem em mim resquícios.

Uma vez tiramos uma fotografia no meio das papoilas e das margaças, o vento nesse dia não te deixava fazer a pose e os cabelos dançavam na frente dos teus olhos. É estranho como essa fotografia não desbotou como tantas outras, reflecte mesmo aquele dia de Maio naquela tarde quente mas de ar agitado. Era-mos tão novos… como me lembro do sorriso plantado no teu rosto, uma perna à frente da outra como se fosses uma actriz de cinema… tu eras uma actriz de cinema. O tempo passou… quanto tempo foi? Não sei! Mas nunca deixei que te levasse de mim.

Por vezes, deixamos de fazer uma coisa ou outra, por nada ou por cobardia, por comodismo ou falta dum golpe de asa. Por vezes deixamos que o tempo nos devore, nos ultrapasse ou nos arraste nos ponteiros do relógio. Não me arrependo de nada do que fiz, mas modificaria muita coisa, principalmente “obrigar-me” a dizer-te todos os dias que te amo.

Já não somos aqueles garotos que corriam pelos campos atrás das borboletas e dos gafanhotos, mas temos a mesma vivacidade no sangue, nos sentidos, nos desejos, nos quereres e nos afectos. Posso duvidar da paixão eterna, mas sinto-me um eterno apaixonado."


Francisco Valverde Arsénio

(quarta-feira, 25 de Maio de 2011)

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