20 de outubro de 2010

Um dia...

"Um dia,
quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços,
a tua pele será talvez demasiado bela
e a luz compreenderá
a impossível compreensão do amor.
Um dia,
quando a chuva secar na memória,
quando o inverno for tão distante,
quando o frio responder devagar
com a voz arrastada de um velho,
estarei contigo e cantarão pássaros
no parapeito da nossa janela,
sim, cantarão pássaros,
haverá flores,
mas nada disso será culpa minha,
porque eu acordarei nos teus braços
e não direi nem uma palavra,
e o princípio de uma palavra,
para não estragar a perfeição da felicidade."


José Luís Peixoto

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